Caldas S. Jorge - Joaquim Magalhães de Castro tem paixão pela história
Jornalista feirense corre o mundo
para mostrar o que os portugueses não valorizam.
O jornalista das Caldas de S. Jorge viu ontem ser transmitido na RTP2 o último episódio do seu documentário sobre os portugueses nos Himalaias. O trabalho chegou ao pequeno ecrã depois de 10 anos de persistência, sinal, na sua perspectiva, de que Portugal está longe de compreender o seu papel no mundo.
Sandra Moreno
Escreve sobre o descobre nas suas viagens.
Escreve sobre as memórias, feitos e conquistas dos portugueses no mundo.
Tem formação em história e é nisso que se inspira enquanto jornalista. Natural das Caldas de S, Jorge, Joaquim Magalhães de Castro viu ontem ser transmitido na RTP2 o seu último episódio do documentário “Himalaias – Viagem dos jesuítas portugueses”.
O documentário é fruto de um trabalho de 10 anos, de muita persistência e de um orgulho que diz sentir por Portugal. Porque quando se corre o mundo, descobre-se que, afinal, ser português é algo muito mais importante.
Concilia a história com o jornalismo, mas diz que essa é uma tarefa, por vezes, “inglória”.
Desde que iniciou as suas viagens, percebeu que os portugueses têm muito mais para contar do que se imagina. Mas entristece-o reconhecer que contar essas histórias nem sempre é fácil. “Os portugueses não valorizam aquilo que são e possuem. Os jornais não se interessam por publicar reportagens sobre a descoberta de uma comunidade luso-descendente na Birmânia” – diz o jornalista.
A expansão portuguesa é, na sua opinião, um terreno fértil em histórias que mudariam a forma como os portugueses se sentem, mas “a mensagem não passa”.
Joaquim Magalhães de Castro tenta fazer disso a sua missão, “mas em Portugal há um grande desprezo por aquilo que é nosso. Se calhar se fosse inglês ou francês levavam-me ao colo”- aponta o feirense.
“Mal tratamos a nossa história. É isso que estranho. Contentamo-nos com pouco, mas somos muito bons a promover os outros”.
Por isso, o jornalista das Caldas de S. Jorge salienta ter sido uma vitória levar a RTP2 a mostrar o seu documentário. “Há 10 anos que insisto e desta vez consegui”.
O resultado tem agradado os espectadores. O primeiro episódio levou mais de 190 mil pessoas a fixarem o olhar no pequeno ecrã. “Agora, não tenho tido feedback da RTP2, em termos de audiência, mas as reacções que vou colhendo são muito boas” – realça, satisfeito.
Joaquim Magalhães de Castro sente-se quase um privilegiado por conhecer tanto sobre os portugueses e não desiste de “repor a verdade histórica. “Às vezes tenho a sensação de que o país está entregue a traidores. Não se quer mostrar a grandeza dos portugueses e não temos orgulho na nossa história” – diz, lembrando, por exemplo, que um dos homens mais ricos da Malásia é luso-descendente. “E ao contrário de nós, tem muito orgulho nas suas raízes. É tempo de nós, aqui em Portugal, resgatarmos também a nossa história, o nosso património. Isso pode ser até um caminho para sairmos desta crise”. Afinal, “os portugueses esgotaram-se no mundo. Nós é que nos misturámos e é a Europa que nos deve alguma coisa e não ao contrário. A maior conquista do mundo foi feita pelos portugueses ao descobrirem o mundo, mais até do que o homem viajar até à Lua”.
E esta é uma realidade que o jornalista considera não estar presente nas mentes dos portugueses. “Basta ligar um canal de história e não se ouve falar sobre os portugueses e, na minha perspectiva, isso é má-fé e uma falta de respeito”.
Joaquim Magalhães de Castro confessa que mudou muito assim que iniciou as suas viagens. Mudou como português. “Em todas elas, encontrei sempre vestígios portugueses, porque nós estivemos, de facto, em todos os cantos do mundo”.
O feirense está, entretanto, a preparar o lançamento de dois livros, um sobre as viagens que fez em África e outro sobre os luso-descendentes no sudeste asiático. Em carteira está também um outro de crónicas e fotografias sobre os 50 anos do navio-escola Sagres, no qual teve o “privilégio” de fazer a volta ao mundo. “E mais uma vez, nenhum jornal se interessou por este trabalho.
São verdadeiros tiros nos pés, o que denota que gostamos muito pouco de nós próprios” – lamenta o jornalista. A falta de interesse é o que mais o desmotiva, mas Joaquim Magalhães de Castro não está preparado para desistir. “Acho que ainda vamos a tempo de usar todos os nossos troféus para que Portugal não se transforme numa colónia de férias dos alemães ou dos ingleses”.
Com devida vénia para com o Semanário Correio da Feira
e Excelente artigo da autoria da Jornalista Sandra Moreno